Um flash, um
baque... zzzZZZZzzzzzZZ.... sono
profundo, pouquíssimos sonhos, os poucos que se tem não trazem sentidos, o sal
secou o paladar, o vapor forte de uma dose desmedida de rum assola o olfato,
confunde os fatos... tic tac tic tac..
acabou a luz, acabou até a coca.
Acorda de novo sem
frio, o azulejo transfere o frescor para a pele enquanto o impiedoso tempo
quente, seco e invasor, acha, só acha coitado, que pode fazer algum tipo de
influência em um organismo humano, ultra complexo, ultra adaptado, resultado da
seleção natural por qual tem passado por anos a fio.. degustando em eventos
sociais, degolando a si próprio com a arma do copo, com a dose quente e
fedorenta de "pseudo-alegria" engarrafa.
Escurece a noite,
nenhuma estrela faz falta quando o vento sopra leve e o calor humano preenche.
A luzinha fraca das velas, amarelas, singelas e tremulantes, palpitam e
balançam como se fossem pétalas de flor. O calor no peito invade, os olhos se
esbugalham, os dentes rangem e sua língua fica liberada para usar o próprio
cérebro: O álcool aumenta o desejo mas diminui o desempenho, já dizia o poeta.
Contudo, o que o poeta não disse é que o desejo alimenta a vontade, e vontade
nem todos têm ao mesmo tempo. Mais um "fora" no Score da noite... Não importa: Vamos brindar!
Rasga o violão
completo, cada nota de cada corda, trinca e range sem medo, na verdade, trinca
e range para implicar, para estarrecer. São notas que um dia já foram mais
rebeldes, mas ainda servem, servem muito bem. Se não servissem, espantavam,
entretanto, atraem, atraem, atraem. Notas como vinho, em garrafas velhas de
sabor diferenciado.
É cantar até ficar
sem voz, é balançar a cabeça e no olhar periférico se sentir no direito, na
grandeza de operar um confortável puff
estofado como o maior dos métodos de percussão da terra. É pegar o violão e de
posse da palheta do destino picotada de uma tampa de margarina extrair notas
mascadas de solos completos. Completos para os ouvintes, mas quiçá, muito
destoantes para os transeuntes da madrugada. "A noite todos os gatos são pardos, os meninos sempre satisfeitos, mas
as meninas querem mais".
Abrem-se as bocas a
cantar, a energia entra no peito, empurra o diafragma e tira da alma o tom
perfeito, o tom de TODO MUNDO CANTA JUNTO.
Esse tom ninguém erra, ninguém desafina. O tom ora pop e objetivo, o tom ora
sertanejo e que faz arrepiar, o tom rock and roll que liberta o pouquíssimo dos
rebeldes que um dia foram, mas o principal, o tom que une, a melodia que possui
peso, o tempo perdido tocado entre
amigos que por ironia tanto tempo já perderam mas só agora se reencontram: Tão natural como a luz do dia, ninguém
percebe? Estamos tirando o atraso de anos. Correremos risco de vida por isso?
O ar ainda é fresco
e o relógio não se deixa usar como desculpa para fuga, mas a quem não
contaminou a farra infinita, começam a pesar as vontades do organismo e não do
cérebro alterado. Um vai, outro vai, um diz que vai em 10 minutos, um só vai
terminar mais uma cerveja. Os poucos que ficam se sentem relativamente
especiais, podem ter conversas francas de bêbados. Ao contrário do que dizem
especialistas, nem todas as conversas francas de bêbados são para se arrepender
depois, no meu caso, 80% dessas conversas vieram para bem (não que isso vá
garantir a diminuição do arrependimento no outro dia, mas pode ajudar)
A noite termina no
escuro, o ápice da escuridão nas ruas de Medeiros leva cada um ao seu
travesseiro com os pensamentos tristonhos de sempre, as preocupações sobre que
bobeiras ditas, que ofensas feitas, o dinheiro gasto em demasia. [Nada que não
passe até na próxima quarta-feira]
Se têm uma coisa em
mim na qual me esforço para ser melhor é procurar extirpar-me de todo o
sentimento de rancor. Tudo é mais fácil quando entendemos os porquês, tudo pode
ser analisado de forma racional. Mas em contra ponto, só o vale para onde o
vínculo emocional trará retorno.
Nem uma noite é
para se arrepender, afinal estamos, SEMPRE, todos
bêbados, bêbados de cair, e todos que não estiverem bêbados, pela falta de
sintonia, sendo de um jeito ou de outro sempre serão expulsos dali.
Essa é uma história
que fala da importância em evoluir sua alma, sua consciência, abandonando
realmente um dos piores sentimentos, o sentimento de rancor. Custei a aprender,
mas depois que aprendi me tornei tão rápido quanto desligar um interruptor, a
ser uma pessoa melhor, uma pessoa que tem a dignidade de pedir desculpas e
aceitar de braços abertos pedidos de desculpas. Um copo às vezes ajuda.
Maturidade é olhar
de cima, é perceber todo o arranjo, todo o contexto. É saber que você poderá
ser ferido a qualquer momento, mas, isso também pode ter sido feito de forma
não proposital.
Por fim aos que
guardam rancor abram apenas um sorriso, já resolve muito!
A você do rancor,
desejo uma bela bacia de alface fresca e inteira do lado do seu prato na hora
da janta, desejo que o papel higiênico não termine bem na hora H, desejo que os
bancos nunca te liguem, desejo que você saiba o que é uma decisão por pênaltis
em final de Libertadores da América com seu clube sendo sagrado campeão, desejo
que alguém na sua casa separe o creme de barbear da pasta de dente, desejo que
você ganhe pelo menos um bingo na vida, desejo que você seja o único na banda
que saiba fazer aquele detalhe no instrumento, desejo que você volte sempre que
puder e que o "desejo de voltar" seja o que te move, desejo que você
resolva suas coisas tão bem guardadas e que depois disso, elas te levem a lua
(se esse for o destino), desejo a você um dia frio e um cobertor quente no sofá
de casa vendo temporadas intermináveis, desejo
que você tenha alguém pra amar quando estiver bem cansado, desejo que você
tenha abertura para ouvir e, se achar que vale a pena, que você tenha
discernimento para propagar suas opiniões da melhor forma, adaptado a cada
contexto.
Desejo a você
amigos de verdade, amigos compreensivos, amigos DISPONÍVEIS, amigos que bebem
cerveja e que cantam as mesmas músicas que você. Amigos que te cortem, que te
apontem INÚMEROS defeitos, que abalem sua estrutura psicológica apontando-lhe
cada uma das suas burradas e cagadas. Desejo amigos que, mesmo com tantos cacos
despedaçados largados no chão ao longo de sua trajetória, venham com a liga que
sempre falta para juntar-lhes, para reconstruir. Amigos que estarão do seu lado para ajudar a
corrigir tudo isso. Não vivemos em estruturas sociais inabaláveis, por isso,
mais do que compartilhar, precisamos antes aprender o caminho da felicidade, e
se:
"A felicidade
só é verdadeira quando compartilhada."
Desejo acima de
tudo, A VOCÊ, que entenda que vale SIM
a pena compartilhar e, quando não for possível, que você sofra ao nos mostrar o
quanto essa máxima dita pelo saudoso Christopher McCandless seja, talvez, o ponto
fraco da nossa geração ansiosa por fuga, que se liberta nas garrafas piratas. Mas
mostre também que essa mesma geração já tem a felicidade escondida dentro de si
mesma e a maturidade para saber que para ser feliz, basta estar junto!
Para se obter
resultados diferentes precisamos usar parâmetros diferentes. Agir sempre igual
nos leva sempre ao mesmo destino. Afinal:
“Quem planta
banana, só colhe banana”
Convido a todos a
pararmos de errar de propósito!
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